Existe obesidade saudável?
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que pacientes com sobrepeso ou obesidade que não apresentavam complicações do excesso de peso, representado por todos exames normais, poderiam ser considerados saudáveis. Porém, os últimos trabalhos tem mostrado que, comparado com a população de peso considerado normal, existe uma maior mortalidade entre aqueles com excesso de peso. Além do mais, exames normais em um determinado momento não significam que ficarão assim para sempre. Muitos desses pacientes passarão a apresentar alterações ao longo de um acompanhamento mais extenso.
O termo obesos "metabolicamente saudáveis" refere-se a indivíduos que não apresentam anormalidades cardiometabólicas associadas ao excesso de gordura (por exemplo, hipertensão, hipertrigliceridemia, alteração do colesterol, glicemia alterada e / ou evidência de resistência à insulina, diabetes mellitus ou testes anormais do fígado, sugerindo doença hepática gordurosa) . Apesar da falta de anormalidades metabólicas em um subconjunto de pacientes obesos, há evidências de aumento da mortalidade. Em uma análise conjunta de quatro estudos com 10 anos de acompanhamento, indivíduos com obesidade (IMC>30kg/m2) "metabolicamente saudáveis" tiveram um risco significativamente aumentado de mortalidade em comparação com indivíduos com peso normal metabolicamente saudáveis. No entanto, em indivíduos com sobrepeso (IMC entre 25 e 30kg/m2) metabolicamente saudáveis, o aumento do risco de mortalidade não atingiu significância estatística, mesmo quando a análise foi restrita a estudos com pelo menos 10 anos de acompanhamento. Assim, parte da variabilidade nas estimativas de mortalidade entre pessoas com sobrepeso pode ser devida a riscos proporcionais ao excesso de massa gorda; indivíduos com sobrepeso representam um espectro de risco geralmente menor que os obesos, pelo menos a curto prazo. É evidente que a obesidade varia em seu impacto na saúde metabólica e muitas vezes pode levar muitos anos para produzir efeitos deletérios mensuráveis. Além disso, a ausência de impacto quantitativo na saúde metabólica atual não garante uma falta de impacto na saúde mental, social ou física geral. O paciente pode ter seus exames normais, mas já ter alguma dificuldade para locomoção ou para praticar esportes, ou já apresentar algum compromentimento da autoestima, levando a ansiedade ou a depressão, por exemplo.